terça-feira, 10 de maio de 2011

Para alunos de Literatura - 1a. série

TROVADORISMO

Os textos do Trovadorismo são fundamentais para que tenhamos uma visão da língua portuguesa em processo de formação, já que são escritos em galego-português, e para se ter noção de como a arte da época vinha marcada pela estrutura social e econômica, bem como pela mão da Igreja. Isso se pode notar nas relações de impedimento ao amor entre grupos sociais incomunicáveis e na vassalagem amorosa, que reproduz a estrutura feudal, sobretudo nas cantigas palacianas. As cantigas de amigo, oriundas de um ambiente mais popular, vêm marcadas pela simplicidade dos cenários, pelo diálogo com a natureza e pelo amor possível, conquanto impedido temporariamente.

A música, companheira da poesia nessa fase – parceria que justifica o nome do estilo, tomado aos trovadores, poetas-cantores – cumpre papel essencial à divulgação dos poemas em tempos sem imprensa. A métrica e a rima, bem como o refrão, garantem musicalidade aos versos, em formato simples, com a chamada redondilha (menor, versos de 5 sílabas; maior, versos de 7 sílabas). Até o Renascimento, música e poesia caminham juntas e interligadas.

I. Cantiga da Ribeirinha, de Paio Soares de Taveirós


 A Cantiga da Ribeirinha, também conhecida como Cantiga da Guarvaia, de Paio Soares de Taveirós, é considerada o mais antigo texto escrito em galego-português: data provavelmente de 1189 ou 1198, ou seja, foi escrita em fins do século XII. Segundo consta, foi dedicado a D. Maria Paes Ribeiro - apelidada "A Ribeirinha", amante do rei D. Sancho I - e pertence a uma coleção de textos arcaicos denominada Cancioneiro da Ajuda. Abaixo das estrofes, uma transcrição para o português moderno, para favorecer o entendimento.

"No mundo nom me sei parelha, 
 mentre me for' como me vai, 
ca ja moiro por vos - e ai 
mia senhor branca e vermelha, 
queredes que vos retraia 
quando vos eu vi em saia! 
Mao dia que me levantei,
que vos enton nom vi fea! "
"E, mia senhor, des aquel di' , ai!  
me foi a mim muin mal, 
e vós, filha de don Paai 
Moniz, e ben vos semelha 
d'aver eu por vós guarvaia, 
pois eu, mia senhor, d'alfaia 
nunca de vós ouve nem ei 
valia d'ua correa". 

No mundo ninguém se assemelha a mim / enquanto a minha vida continuar como vai / porque morro por ti e ai / minha senhora de pele alva e faces rosadas, / quereis que eu vos descreva (retrate)  / quando eu vos vi sem manto (saia : roupa íntima) / Maldito dia! me levantei / que não vos vi feia (ou seja, viu a mais bela). 
E, minha senhora, desde aquele dia, ai / tudo me foi muito mal / e vós, filha de don Pai / Moniz, e bem vos parece / de ter eu por vós guarvaia (guarvaia: roupas luxuosas) / pois eu, minha senhora, como mimo (ou prova de amor) de vós nunca recebi / algo, mesmo que sem valor.


Veja outros exemplos de poemas da época trovadoresca e procure identificar o tipo de cantiga: entre as líricas, as de amor e de amigo; entre as satíricas, as de escárnio e de maldizer.



II. Cantiga de Bernal de Bonaval

A dona que eu am'e tenho por Senhor
amostrade-me-a Deus, se vos en prazer for,
se non dade-me-a morte.
A que tenh'eu por lume d'estes olhos meus
e porque choran sempr(e) amostrade-me-a Deus,
se non dade-me-a morte.
Essa que Vós fezestes melhor parecer
de quantas sei, a Deus, fazede-me-a veer,
se non dade-me-a morte.

A Deus, que me-a fizestes mais amar,

mostrade-me-a algo possa con ela falar,
se non dade-me-a morte."

III.
"Ai flores, ai flores do verde pino,
se sabedes novas do meu amigo!
ai Deus, e u é?
Ai flores, ai flores do verde ramo,
se sabedes novas do meu amado!
ai Deus, e u é?
Se sabedes novas do meu amigo,
aquel que mentiu do que pôs comigo!
ai Deus, e u é?
Se sabedes novas do meu amado,
aquel que mentiu do que mi há jurado!
ai Deus, e u é?"

IV.(fragmento de canção de D. Diniz, rei trovador)

I . Ou é Meliom Garcia queixoso
 ou nom faz come home de parage
 escontra duas meninhas que trage,
contra que nom cata bem nem fremoso:
ca lhas vej' eu trager, bem des antano,
 ambas vestidas de mui mao pano,
nunca mais feo vi nem mais lixoso.

II.  Andam ant' el chorando mil vegadas
 por muito mal que ham com el levado;
 [e] el, come home desmesurado
contra elas, que andam mui coitadas,
 nom cata rem do que catar devia;
e, poi-las tem [con]sigo noit' e dia,
 seu mal é tragê-las mal lazeradas.


(...)





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